By: Kafé Santana
As Eleições 2016 para prefeito, vice-prefeito e vereador acontecerão em uma conjuntura social, econômica e política sem precedentes na história do país. O primeiro turno ocorrerá no dia 2 de outubro, e o segundo turno no dia 30 de outubro. O segundo turno será realizado somente em municípios com mais de 200 mil eleitores e eleitoras em que nenhum dos candidatos consiga a maioria absoluta, ou seja, 50% dos votos mais um. Os dois candidatos mais votados no primeiro turno disputam o segundo turno entre si (PORTAL DO LITORAL PB, 2016).
Na atual circunstância onde se aponta um retrocesso configurado por meio da corrupção e também pela perseguição de alguns grupos minoritários, se faz necessário escolher líderes políticos sensíveis, que tenham propostas direcionadas às camadas populares como negros, índios, ciganos, mulheres e, em especial, a sujeitos LGBT.
Eleger candidatos evangélicos, elitistas, tradicionalistas, heterossexuais e brancos podem dar contornos mais definidos a este retrocesso. Não eleger os sujeitos que carregam tais características não é o fim em si. Uma vez que, não há nenhum problema em ser evangélico, elitista, tradicionalista, heterossexual e branco. Pois, também são formas de ser/está no mundo, de pensá-lo e de sentí-lo. O cuidado em relação a estas características se apresenta como o primeiro passo de um processo de reflexão profunda.
Torna-se um problema quando as posturas idealistas/extremistas evangélicas, elitistas, tradicionalistas, heterossexuais e brancas são considerados pilares da normalidade. Utilizadas contra outras ideologias religiosas, contra os pós-modernos e progressistas, contra os sujeitos LGBT, contra outros grupos étnico-raciais, e assim caracterizando os sujeitos destas pertenças ideológicas, estéticas, identitária e subjetividades como a escória da sociedade, tal qual dizia o Sartre, “O inferno são os outros”.
Na maioria das vezes as posturas ideológicas dos evangélicos, elitistas, os tradicionalistas, heterossexuais e brancos se baseiam na discriminação, no preconceito, no racismo e na segregação que, por sua vez são ancorados pela epistemologia sexista, machista e bíblica. Não há nenhum problema com a epistemologia bíblica, desde que ela não seja utilizada como uma arma apontada para os sujeitos de outras religiões (fé), como também os ateus e as atéias.
Destaco em especial os evangélicos (a exemplo Marco Feliciano, Ana Paula Valadão e também a Rachel Sheherazade) por que salta aos olhos a falta de empatia deles e delas em relação aos outros sujeitos que são diferentes dos elitistas, tradicionalistas, heterossexuais, brancos e, sobretudo deles mesmos.
Não estou afirmando que os sujeitos que praticam outras religiões (fé), que são os pós-modernos e progressistas, que estão inseridos na população LGBT e os negros são os anjos ou inocentes, assim, isentos de atitudes de discriminação, preconceito, racismo e segregação quanto à sua espécie humana. No âmbito das relações dos grupos citados, a discriminação, o preconceito, o racismo e a segregação permeiam também a vida cotidiana dos mesmos. Mas este é outro assunto.
É preciso apostar em candidatos que representem os grupos sim, pois antes de tudo o grupo é de fato o porto seguro. Pois quando buscamos o aconchego e a proteção retornamos ao familiar, ou seja, o grupo e/ou o clã familiar. É nele que nós desenvolvemos também as nossas percepções e impressões, construímos a consciência do mundo, e, sobretudo, de si como sujeito. Assim se faz necessário eleger candidatos/sujeitos que tenham interesses em lutar pelo nosso grupo de pertença. Isso implica que o candidato eleito vai apenas lutar em nome de seu grupo. Mas, se ele não luta pelo seu grupo de pertença, quem o fará?
A luta para conquistar os benefícios, através de políticas públicas e desenvolver as estratégias para melhoria da população de forma geral e sem fazer distinção, como também focando seu grupo de pertença, tem que ser uma “luta decente” como base na empatia, na compressão, na aceitação e no respeito. E não uma luta de perseguição contra os outros grupos sociais, como os evangélicos que parecem perseguir, sobretudo, a população LGBT, dificultando os projetos que beneficiam a comunidade. É claro que nem todos os evangélicos comungam do mesmo pensamento, mas, a maioria tem se comportando de forma violenta, com traços de bestas-feras violentas na face, sangue nos olhos, no corpo e na alma. Parece que ele e elas estão na esfera política para perseguir e pregar o horror, e não para tornar o mundo um lugar melhor. A Fé é de fato um fenômeno bonito e tão humano, mas ela nunca é visível nos olhos e nas atitudes dos mesmos, e sim ódio.
Neste sentido, devemos nos questionar acerca das escolhas do sujeito/candidato para nos representar na esfera da política partidária. Irei abrir várias questonamentos e problematizar todo o tempo para que essa provocação seja o mais afetiva possível.
Assim, o que faz alguém se candidatar para cargo de prefeito e vereador ? Em especial para vereador , uma vez que ela nunca demostrou a inclinação para a política partidária e nem compromisso com a população. Qual é a motivação e/ou a intenção deste sujeito? Isso nós nunca saberemos de fato, mas podemos tem indícios nas entrelinhas.
Poderia citar muitos nomes para embasar essa provocação direcionada à comunidade LGBT pessoense, porém, destaco a apresentadora Eugênia Victal (Foto 02): “Apresentadora de tv, publicitária, especialista em marketing, jornalista, esportista, mineira de Belo Horizonte, cidadã pessoense.” (VICTAL, 2016).
Pois bem, o anúncio de sua candidatura fora feito pela mineira (cidadã Pessoense) dia 14 de abril de 2016 durante reunião do PPS, no Hotel Hardman (PORTAL DO LITORAL PB, 2016).
O que essa candidata mulher, católica, elitista, “tradicionalista”, heterossexual, branca e mineira tem para oferecer ao povo? O quanto essa mulher/candidata é sensível a minorias pessoenses? Utilizo essas classificações apenas para organizar o entendimento do texto, e não para diminuir a protagonista deste ensaio, pois, não há nenhum problema em ser, estar e ter estas caraterísticas estéticas e psicológicas. Segundo Candaú (2012) classificar não se figura necessariamente um fenômeno negativo, é algo presente em nossa forma de organizar o pensamento para codificar o mundo e seus fenômenos.
Ela é mulher e isso pode ser bom? Não necessariamente, pois, ser/está mulher não significa sensibilidade, há muitas mulheres machistas e sexistas, o que podem ser tão quanto e/ou mais perigosas do que um homem, católico, elitista, tradicionalista, heterossexual, branco, sexista e machista.
A religião/Fé é fenômeno importante para alguns sujeitos, como não ter religião ou Fé alguma no divino também é importante para outros. A religião/Fé é um paramento de conduta e ajuda alguns sujeitos a se posicionarem no mundo. Contudo, a Igreja Católica perseguiu, julgou e puniu muitos sujeitos acusados de se desviar de suas normas de condutas. Neste enfoque, a Religião/Fé não significa o marcador de um bom caráter, ética e noção de bem e do mau. Na teledramaturgia, a personagem Perpétua (Joana Fomm) da telenovela Tieta, de 1989, era católica fervorosa. Ela perseguia e infernizava a vida das personagens, Amorzinho (Lília Cabral) e Cinira(Rosane Gofman), simplesmente pelo fato de que as duas mulheres solteiras e ainda jovens sentisse o poder atrativo do prazer sexual. Não que a ficção paute as relações do mundo real, porém acabam por representar situações cotidianas.
Eugênia Victal tem o poder da fala, e tem sobretudo, influência, pois convive com artistas, empresários, políticos e outros agentes sociais também influentes. Não se sabe nada sobre suas origens quando solteira e mais jovem em sua terra natal. Mas, atualmente sem dúvida ela goza do status que a configura como um sujeito da elite. Outra “jornalista” Rachel Sheherazade também tinha essa influência e em seus discursos nos quais é notório a disseminação do ódio, o que refirma sua postura elitista e fascista com base na epistemologia bíblica uma vez que ela é evangélica. Características cunhadas por Jean Wyllys, quando Sheherazade em um lapso de psicopatia disse que ele não representa ninguém”, disparou (WYLLYS, 2014).
Parece que os “jornalistas” se sentem no direito de falar o que vem na cabecinha de vento sem pensar nas implicações negativas de seus discursos. E isso pode ser perigoso, e tudo começou quando outra cabecinha de vento Silvo Santos deu certo “poder” para a Sheherazade, ela tem disseminado a intransigência e o ódio quando tem oportunidade de abrir a boca. Eleger, ou melhor, dá poderes para alguém que tem o poder da fala e tem o super-ego rígido pode ser nocivo. Nós queremos isso? Não! Isso não quer dizer que Victal fará isso, mas quem nos dá garantias que não o fará. E com esse poder nas mãos, uma vez eleita, podemos descobrir o nível do tradicionalismo patológico de uma pessoa. Mas pode ser tarde demais. Concordam?
Eugenia Victal é casada com Bil Berbert desde 2000, um parceiro heterossexual, o que supõe que ela também é heterossexual (BERBERT, 2016). Se ela for uma mulher que ainda conserva a idéia tradicional e rígida de família nuclear, esse será outro problema, sobretudo, para a comunidade LGBT.
Etnicamente, Eugenia Victal é branca, e por sinal uma loira muito bonita. Podemos ver bem sua beleza nas caras e bocas estampadas nos selfies disseminados por suas redes sociais. Lembra muito a canção Vogue de Madonna, Strike a pose (Foto 03). Mas, como será que ela percebe as outras tonalidades de pele? Será que ela tem noção de que outras etnias de epiderme mais escuras ainda tem sofrido os horrores de uma sociedade opressora, segregadora e líquida, sobretudo, a população negra que é empurrada cada vez mais para as periferias. Ou será que ela acredita na historiografia branca que figura a princesa Isabel com a heroína que libertou os escravos no Brasil?
Ela não é paraibana e isso implica no grau de sensibilidade? Talvez sim, talvez não. Ela somente está aqui há sete anos.”AMigos, quero partilhar com vocês essa imensa alegria… eu, Mineirinha da gema, agora, oficialmente “adotada” pela terra que já chamo de Mãe há quase 7 anos! Eu me sinto recebendo a certidão de “maternidade”! Obrigada Ver. Marmuthe Cavalcanti, a cada irmão “conterrâneo dessa Paraíba linda e a todos os vereadores da Câmara Municipal de João Pessoa! Deus mais que bom, Deus “Pai”!! (VICTAL, 2016).
Talvez o fato dela não ter raízes paraibanas sua sensibilidade em relação ao povo paraibano, as minorias paraibanas, em especial, a comunidade LGBT seja frágil. A cidadania paraibana é linda, mas não garante nada, muito menos um sentimento de pertença. Esse sentimento é mais congruente quando há também angustia com as problemáticas sociais. Talvez sua candidatura seja a extensão deste sofrimento. O fato é: é muito fácil ter sentimento de pertença com o encanto do calor, das praias, com as paisagens postais e com o tratamento que os pessoenses dão aos visitantes, além do custo de vida baixo, que é de certo uma variável sedutora.
Na propaganda eleitoral ela tem usado o discurso romântico em nome de algumas minorias e das mazelas e problemáticas sociais pessoenses. “A cidade que todos merecem é aquela que respeita a cidadania. Nós pagamos impostos, temos direitos a serviços dignos. Nosso meio ambiente esquecido, a barreira de Cabo Branco, gente, pode acabar. Quase não temos calçadas e onde tem os cadeirantes não conseguem passar. Os deficientes não têm programas sociais voltados pra eles. A saúde em situação de emergência… Falta tudo. E se os bons se calam o mal vence” (VICTAL, 2016).
Ela tem todo direito de se expressar verbalmente, escolhendo o melhor e mais convincente discurso de comoção. Entretanto, visitando as redes sociais, Facebook e Instagram, da “jornalista” se percebe que nada diz acerca das problemáticas socais. Há sim uma incongruência. Quase tudo no Facebook e também Instagram oficial é muito belo, é o país das maravilhas. O narcisismo é o seu Império, uma vida luxuosa, elegante, charmosa, sofistica e de alto custo representada por fotos selfies, vídeos e merchandising de algumas marcas. Veja bem, a beleza não é um problema, tudo mundo deseja a beleza e os bens materiais simbólicos, quando estes, não são os marcadores definitivos da pessoalidade e da subjetividade. Todo mundo tem direito a eles. Mas, quando eles são os marcadores do egocentrismo isso traz índicos, pistas de uma pessoalidade e subjetividade individualista, consumista e líquida. Seu Facebook e também Instagram são simulacros de um programa de televisão, o seu habitat. Estão representados nestes espaços coisas que ela apresenta nos seus programas de variedades, as receitas prontas de maquiagens, cozinhas, de comportamentos. Embora, se veja alguns lampejos de deslocamento de seu ego e da vida em TV, ainda que estes não façam a representação de forma mais significativa de uma pessoa preocupada com as mazelas sociais.
Quanto às postagens do seu Blog intitulado “Eugênia Victal – vida é ao vivo”, todas as postagens são na verdade reposts de blog e sites populares. O que se percebe é que é a Eugênia Victal é apenas uma mediadora da informação de certos conhecimentos técnicos e práticos de beleza, estética e comportamentos. Ela não é uma pensadora (pode se tornar) que produz conteúdos reflexivos, mas isso é não é um problema, não é ruim as pessoas precisam de beleza, charme e de sonhos. Mas em que isso tudo contribui para política paraibana e para a população em uma perspectiva da realidade dos problemas?
Quando o Toinho do Sopão se candidatou para o cargo de deputado estadual, de certo modo houve uma coerência no fato, pois sua prática social e sensibilidade se mostrou coerente. O mesmo se aplica ao ativista LGBT Renan Palmeira, uma vez que ele tem lutado para melhoria da população LGBT. Mas, por que ela se candidatou? Se ela for eleita, a quem Victal pretende atender? Qual é o fruto, e que fruto iremos comer se ele for eleita? (Foto 03).
Então vamos fazer o que Victal discursa na matéria sobre o “Processo de Impeachment de Collor e sua vida política décadas depois”: “[…] é ou não é um deboche com a política brasileira. A culpa é dele de jeito nenhum. E a culpa é de quem vota, reitera e reafirma a corrupção no nosso país”. (VICTAL, 2011).
Referências
Apresentadora Eugenia Victal da Tv Correio/Record conta o Processo de Impeachment de Collor. In: Youtube, 2011. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=O7YUrqLmnys >. Acesso em: 27 jun. 2016.
BERBERT, B. In: Facebook, 2016. Disponível em:< https://www.facebook.com/bil.berbert/about?section=all_relationships >. Acesso em: 27 jun. 2016
CANDAU, J. Memória e identidade. (tradução) Maria Letícia Ferreira. São Paulo, 1. ed, Contexto, 2012.
Eugênia Victal perfil Instagram In: Instagram, 2016 Disponível em:< https://www.instagram.com/eugeniavictal/ >. Acesso em: 27 jun. 2016.
Eugênia Victal disputará vaga na Câmara Municipal de João Pessoa.In:portal do litoral pb. Disponível em:< http://www.portaldolitoralpb.com.br/eugenia-victal-disputara-vaga-na-camara-municipal-de-joao-pessoa/ >. Acesso em: 27 jun. 2016.
Jean Wyllys chama Rachel Sheherazade de “burra”, “fascista” e “cafona”. In: Varela Noticias, 2014. Disponível em:< http://varelanoticias.com.br/jean-wyllys-chama-rachel-sheherazade-de-burra-fascista-e-cafona/ >. Acesso em: 27 jun. 2016.
VICTAL, E. O que você gostaria de mudar ou melhorar? In: Youtube, 2016. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=ovHXT5DnX2I >. Acesso em: 28 jun. 2016.
VICTAL, E. Fotos de Eugenia Victal. In:Facebook, 2014. Disponível em:< https://www.facebook.com/eugenia.victal?fref=photo4&type=3&theater >. Acesso em: 27 jun. 2016.